Biologia, Zoologia

SACRIFÍCIO DE ANIMAIS

Sérgio Greif

O sacrifício de animais em rituais religiosos é prática mal vista pela sociedade ocidental de uma maneira geral, tanto devido à crueldade envolvida quanto devido à má impressão visual que causam, associação dessas práticas com feitiçaria etc. No entanto, muitas das pessoas que demonizam as religiões onde animais ainda são sacrificados ignoram que a crueldade envolvida no sacrifício de animais é similar à crueldade praticada quando o animal é abatido para consumo, seja por qual método seja.

A demonização dessas religiões, mais do que uma oposição ao sacrifício propriamente dito, denota um preconceito contra determinado sistema de crenças. Denota ignorância quanto ao fato de que todas as antigas religiões praticaram, em algum momento de sua história, o sacrifício de animais e/ou de seres humanos. O sacrifício está na raiz da maioria das religiões, ele não se configura em um ato isolado de determinado grupo. Condenar determinado sistema de crenças, qualificá-lo como inferior ou primitivo, em nada contribui com a causa animal. Todos os sistemas de crenças devem ser respeitados e dentro desse conceito, soluções devem ser buscadas para o problema do sacrifício de animais, jamais aceitando-o ou regulamentando-o, mas entendendo suas origens e buscando uma solução que se harmonize com as crenças dos grupos.

Sacrifício é a prática de oferecer alimento, ou a vida de animais ou pessoas, às divindades, como forma de culto. O termo deriva dos radicais ‘sacro’ e ‘oficio’, ou seja, oficio sagrado. Os motivos para a prática de sacrifícios são variáveis, conforme o sistema de crenças de cada religião. Em algumas religiões, a palavra utilizada para sacrifício está associada à palavra “aproximação”, pois acredita-se que o sacrifício aproxima o devoto de sua divindade.

Alguns povos no passado acreditavam que parte do poder dos deuses só podia ser conservada às custas de constantes sacrifícios. Outros acreditavam que os sacrifícios não interferiam no poder dos deuses, mas sim os agradavam, de forma que colocavam o devoto em posição de negociar algum favor.

Havia também sacrifícios para aplacar a ira dos deuses. Animais ou seres humanos podiam ser ofertados como forma de expiar pelos pecados da comunidade. Os sacrifícios desempenhavam função social importante dentro de certos sistemas, pois eram uma forma do devoto oferecer alguma contribuição à instituição religiosa, uma forma de prover alimento para os sacerdotes e para os mais pobres. Dessa forma, após serem oferecidos aos deuses, os animais eram consumidos pelo devoto, pelos sacerdotes ou distribuídos aos pobres.

Os sacrifícios eram práticas diárias nas mais avançadas sociedades americanas pré-colombianas, sendo que algumas destas sociedades praticavam o sacrifício de seres humanos. A sociedade hebréia, os pagãos e animistas de todos os continentes, os romanos, gregos, os muçulmanos e as religiões derivadas dos cultos africanos, todas recorreram ou recorrem ao sacrifício de animais.

Os sacrifícios na sociedade hebréia

O primeiro sacrifício de animais citado na Bíblia foi realizado por Abel (Gen. 4:4), no entanto, este sacrifício e o realizado por Noé (Gen. 8:20) precedem o advento da religião judaica. Dentre os patriarcas, Abraão ofereceu um sacrifício de carneiro (Gen. 22:13) e Jacó é descrito como oferecendo dois sacrifícios, embora o texto não especifique o que tenha sido ofertado (Gen. 31:54 e Gen. 46:1).

O sacrifício de animais parece não ter sido estranho aos israelitas na época de escravidão no Egito (Êxodo 3:18), embora não haja evidencias de que isto fosse praticado neste período. Já na época do êxodo do Egito, os israelitas foram proibidos de imolar animais exceto como ofertas sacrificiais. Uma pessoa que abatesse um animal sem ofertá-lo no tabernáculo era considerado culpado por sua morte (Lev. 17:3-4). Já em Israel, os sacrifícios passaram a ocorrer no pátio do Grande Templo, em Jerusalém. (Lev 17:1-9, Deut. 12.5-7). Esporadicamente, outros lugares que não o Templo eram utilizados para sacrifícios (Juizes 2:5; Juizes 6:18-21, 25 e 1 Reis 18:23-38).

O livro de Levítico descreve em detalhes quais tipos de oferendas podiam ser oferecidas em cada ocasião e de que forma o sacrifício deveria ocorrer. As oferendas eram derivadas de vegetais (farinha, azeite, trigo torrado, bolos, incenso, vinho, etc), animais (bois, cabras, carneiros, pombas, rolinhas etc) e em alguns casos minerais (sal).

Os sacrifícios eram classificados como:

– Sacrifício de expiação pelo pecado (Lev 4 e Lev. 6:24-30): Dependendo de quem cometeu o pecado e das condições em que fora cometido, eram ofertados novilhos, bodes ou cabras.

– Oferta pela culpa ou holocausto (Lev. 5, Lev. 6:1-13 e Lev. 7:1-10): Eram ofertados carneiros, cordeiras e cabritas, mas os menos abastados podia ofertar pombas, rolas ou mesmo farinha (fermentada ou não).

– Sacrifícios pacíficos ou de ação de graças (Lev 3; Lev. 7:11-20): Era um sacrifício queimado para agradar a Deus. Eram sacrificados bois, cabras e carneiros, mas também bolos de farinha com azeite, não fermentados.

– Oferta de manjares (Lev. 2:1-11 e Lev. 6:14-23): Era um sacrifício queimado para agradar a Deus. Eram usadas preparações à base de vegetais não fermentados e sal.

– Ofertas de primícias (Lev. 2:12-16): O propósito era agradecer pela abundância da colheita. Eram oferecidos os primeiros grãos coletados, ainda verdes, azeite e mel.

Maimônides (1135-1204) explica que os judeus na verdade não tinham a necessidade de realizar sacrifícios para Deus, mas isto passou a ser praticado em Israel por influência das tribos pagãs que viviam ao redor. Estes povos utilizavam estes rituais como forma de aproximar-se de suas divindades. De acordo com Maimônides, se um sistema não houvesse sido criado para que os israelitas praticassem rituais semelhantes aos pagãos para se aproximarem de seu Deus, possivelmente sacrificariam para deuses estrangeiros. Maimônides concluiu que a decisão de Deus de permitir sacrifícios era uma concessão às limitações psicológicas do homem, e não uma necessidade religiosa real.

De fato, na Biblia há muitas passagens que mostram que o Deus de Israel na verdade buscava pelas orações e o sincero arrependimento, e não o sacrifício:

“Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres.” (Salmo 40:6).

“Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos.Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.” (Salmos 51:16-17).

“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? – diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer.” (Isaias 1:11-14)

“E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados.” (Amós 5:22)

“Tende convosco palavras de arrependimento e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Perdoa toda iniqüidade, aceita o que é bom e, em vez de novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios.” (Oséias 14:2)

Os sacrifícios foram abolidos há dois mil anos da sociedade hebréia, sendo substituído por orações.

Sacrifícios no cristianismo

O cristianismo, como religião, jamais utilizou como prática o ritual de sacrifícios, mas cristãos primitivos sem dúvida praticavam sacrifícios no Templo de Jerusalém até sua destruição no ano 70 d.C. Portanto cristãos e judeus deixaram de praticar sacrifícios de animais na mesma época. Há, no entanto, resquícios de práticas sacrificiais pagãs européias na tradição católica (touradas etc), o que mostra que pelo menos no início da cristianização da Europa, estes sacrifícios foram continuados, até sua definitiva incorporação à nova religião.

Na teologia cristã moderna, os sacrifícios não têm lugar visto que Cristo ofereceu-se a sim mesmo como sacrifício universal. A mera fé nisto conduz o devoto à salvação. No entanto, o culto e a eucaristia são práticas que remontam ao sacrifício, sendo a hóstia (no caso católico), a oferenda de carne. O simples fato de Jesus haver sido considerado uma oferenda válida mostra, porém, que o cristianismo aceita, teologicamente, a validade dos sacrifícios. Com efeito, o cristianismo não faria sentido sem a idéia de que Jesus serviu como um cordeiro sacrificial, para expiar pelos pecados do mundo.

Sacrifícios no islã

O período de peregrinação à Mecca (Hajj) é marcado por um rito sacrificial denominado Eid-ul-Adha (comemoração do sacrifício). Este sacrifício lembra que Abraão esteve prestes a sacrificar seu filho (que, de acordo com a tradição muçulmana não era Isaque, mas Ismael). Após as orações, aquele que têm condições leva um cabrito, uma cabra, uma ovelha, um camelo ou uma vaca, para serem sacrificados. A carne destes sacrifícios é compartilhada com a família e os amigos e um terço é dada aos pobres. Todos estes preceitos estão contidos na Surata Al-Hajj (o capítulo do Al-Corão que trata da peregrinação a Mecca).

No Al-Corão (22:37) está explicado que Deus não se beneficia da carne nem do sangue dos animais que são sacrificados, mas que a fé do devoto e sua boa intenção é que são considerados. O animal deve ser abatido tendo sua jugular cortada e seu sangue drenado. Não é permitido dar marretadas, eletrochoques ou perfurar o animal com qualquer objeto. Esta carne, apenas assim é consideradaHalal, própria para consumo.

Sacrifícios no hinduísmo

O Yajurveda, um dos quatro Vedas, contém grande parte da liturgia e dos rituais necessários para a prática religiosa hindu. Isto inclui os ritos sacrificiais. No período de 1000 a.C. a 800 a.C., o hinduísmo passou a basear seu sistema de crenças na constante necessidade de sacrifícios. A população podia consumir a carne apenas de animais abatidos por brâmanes (sacerdotes). Neste período surgiu no hinduísmo o sistema de castas, o conceito de reencarnação e a concepção de que almas animais podiam evoluir até a condição humana.

Textos como o Ramaiana e outros demonstram que os sacrifícios de animais eram comuns na prática religiosa hindu. No século VI a.C., no entanto, devido a pressões ecológicas e o advento de novas concepções religiosas, os sacrifícios foram abandonado em sua maior parte. Neste período, seguindo o desprezo pelos sacrifícios, a salvação da alma passa a estar atrelada às boas ações do indivíduo, entre elas evitar causar mal aos animais.

Por não ser, no entanto, uma religião organizada, o hinduísmo permite uma variedade de rituais nitidamente destoantes. Ao passo que na maior parte dos lugares os Templos abriguem animais desamparados e os devotos lhes ofereçam alimentos como parte de seu rito, em outras regiões mais isoladas e menos abastadas animais e mesmo seres humanos continuam a serem sacrificados.

Isto é especialmente verdadeiro nos templos dedicados á deusa Kali: Em 14 de junho de 2003 um homem tentou sacrificar sua filha no Templo de Kamakhya, tendo sido detido pelos sacerdotes e preso pela policia. Na aldeia de Parsari, distrito de Sagar, em Madhya Pradesh, um sacerdote hindu foi preso em 27 de março de 2003 por sacrificar um homem. Embora sacrifícios humanos sejam proibidos, eles continuam a acontecer na Índia.

Sacrifícios eram também praticados em outras antigas religiões da Ásia. Confúcio descreve a existência de sacrifícios na China do século VI a.C.

Sacrifícios pagãos

O sacrifício de animais e seres humanos foi praticado por pagãos de todos os continentes. Muito se tem discutido sobre a condição dos druidas (sacerdotes celtas), se eles eram pessoas pacíficas e simpáticas ou, como nos queriam fazer crer os romanos, bárbaros sanguinários. É possível que tenham sido ambos, um pouco dos dois. Há evidências arqueológicas de que na religião celta havia sacrifícios de seres humanos, ainda que raramente. Os relatos de historiadores romanos e cristãos a esse respeito, embora provavelmente exagerados, dão alguma idéia da forma como esses rituais ocorriam.

Já com relação aos astecas, sabe-se que praticavam rituais de sacrifício humano praticamente diários. Esta era a forma que encontravam para aplacar a fúria do deus Huitzilopochtli, representado pelo Sol, e desta forma evitar catástrofes. Isto os colocava em constante guerra com seus vizinhos, pois com o intuito de evitar o sacrifício de seus próprios, sacrificava-se prisioneiros de guerra. Da mesma forma, os sacrifícios eram praticados na sociedade maia.

Sacrifícios eram praticados na cultura cretense minóica, pré-helênica, mas é possível que não como parte dos ritos diários, mas em casos especiais como para aplacar a ira dos deuses durante desastres naturais. Os sacrifícios durante este período evidenciam-se, além da arqueologia, pela perpetração de lendas relativas aos minóicos, como aquela em que a cidade de Atenas precisava enviar todos os anos sete rapazes e sete moças para Creta, para serem oferecidas ao Minotauro. Gregos e romanos ofereciam sacrifícios, principalmente de animais, em honra dos deuses.

Sacrifícios nas religiões africanas

A maioria das religiões africanas ainda pratica o sacrifício de animais e, em casos mais velados, também de seres humanos. Na antiga religião Zulu, ainda praticada na África do Sul, pessoas podem ser mortas não como parte de um sacrifício ritual, mas para que alguma parte de seu corpo seja utilizada como medicamento (Muti). Nesta forma de medicina, o pênis de um menino pode ser requerido pelo sangoma(curandeiro) para elaborar um elixir contra a impotência ou o estupro de uma virgem pode ser necessário para curar alguém de AIDS.

Os ritos sacrificiais africanos, trazidos para a América do Sul e Caribe no período colonial, ainda são praticados em muitas comunidades.

No candomblé, o sacrifício de animais é praticado pelo Axogun ou pelo Babalorixá. O primeiro que deve receber os sacrifícios é Exu, a quem é oferecida uma galinha. Em seguida o Orixá que se pretende contatar recebe sua oferta, sempre um animal quadrúpedes. Após morto e oferecido no ritual, o animal é consumido pelos devotos e seu couro pode ser utilizado para a confecção de instrumentos musicais.

No candomblé o sangue não apenas é vida, como possui uma energia elementar. O sangue e as visceras dos animais tem o objetivo de produzir axé, energia vital.

Apesar disto, há seguidores do candomblé que opõem-se à pratica de sacrifícios de animais, como é o caso do Pai-de-Santo Agenor Miranda Rocha.

Caio de Omulu não questiona a validade, ou necessidade, do uso de animais dentro da umbanda, mas sim sua freqüência. Prega que tais rituais deveriam ser exceção e não única prática como vem sendo realizado.

Não querendo discutir a validade do sacrifício no contexto do sistema de crenças de qualquer religião, a mera existência de locais onde estas mesmas religiões são praticadas sem a necessidade de sacrifícios de animais, rituais estes reconhecidos pelos centros onde animais ainda são utilizados, demonstra que a utilização de animais não é necessária. O ritual cumpre uma função que, mais do que uma obrigatoriedade religiosa, configura-se em uma forte impressão psicológica no devoto que a pratica.

Conclusões

Seja qual for a religião que pratiquemos ou não pratiquemos qualquer religião, um princípio que devemos ter claro é que o movimento abolicionista jamais deverá ser um movimento anti-religioso ou contra uma religião específica. Devemos procurar nos opor ao sacrifício de animais sem desmerecer o complexo de crenças dos indivíduos, porque a causa abolicionista não deve discriminar uma ou outra religião. As mesmas críticas que atualmente são dirigidas às religiões afro-brasileiras poderiam ser dirigidas a qualquer religião, porque o especismo encontra-se fundamentado em todos os povos, todas as religiões.

Devemos trabalhar, sim, a extinção do especismo em todas as religiões, porque embora ele esteja nelas impregnado, não é delas parte integrante. Queremos dizer que respeitamos a liberdade de culto e de fé, mas que isso não justifica a retirada de vidas. Queremos dizer que não somos superiores nem inferiores, e que também descendemos de povos e religiões que sacrificaram animais. Queremos dizer que o sacrifício de animais pode hoje fazer parte dos rituais de certa religião, mas que não precisaria ser assim; que eu outros lugares a mesma religião é praticada e que animais não são mortos.

Porque aquele que combate o sacrifício de animais desmerecendo a fé de um ser humano provavelmente não dispõe de qualidade moral suficiente para perceber que a utilização de animais para outros fins, o que erroneamente também pode ser chamado ‘sacrifício’, pode ser considerado tão ou mais sanguinário. Opondo-se ao sacrifício ritual, a pessoa não vê problema em consumir a carne de um animal abatido dentro de uma instituição que preze por seu “bem-estar”. Hipocrisia.

Porque se dentro daquela crença o sacrifício de animais agrada a um ser divino, aquele que condena esse ritual mas não o ritual diário em torno da mesa nas três refeições diárias, em verdade se coloca como um ser mais do que divino, a quem o “sacrifício” de animais para satisfação do apetite não fere nenhum conceito moral.

Texto recebido por email do Info Sentiens.

Notícias, Zoologia

Poluição sonora ameaça espécies de peixes, diz pesquisa.

Peixes estão sendo ameaçados por crescentes níveis de poluição sonora, segundo um estudo realizado por cientistas europeus. A pesquisa, publicada na revista Trends in Ecology and Evolution, estudou o impacto que o barulho criado por plataformas de gás e petróleo, navios, barcos e sonares têm em espécies de peixes nos oceanos do mundo.

Segundo eles, a maioria dos peixes tem boa audição e os sons são parte ativa de suas vidas. O aumento nos níveis de ruídos afeta a distribuição dos peixes nos mares e suas capacidades de reprodução, de comunicação se de evitar predadores.

“As pessoas sempre assumiram que o mundo dos peixes era silencioso”, disse o biólogo Hans Slabbekoorn, da Universidade de Leiden, na Holanda. O estudo dimensiona a capacidade de audição dos peixes e concluiu que os ruídos gerados por seres humanos embaixo d’água têm o potencial de afetar os animais assim como o barulho do trânsito afeta animais terrestres como aves.

“O nível e a distribuição do barulho aquático está crescendo em uma escala global, mas recebe pouca atenção”, disse Slabbekoorn.

Alguns estudos relataram, por exemplo, que o arenque atlântico, o bacalhau e o atum-rabilho fogem de sons e formam cardumes menos coerentes em ambientes barulhentos.

Os cientistas constataram que a sensibilidade da audição varia de acordo com o peixe, que captam sons seja por um ouvido interno ou por uma linha lateral que corre ao lado do corpo de algumas espécies.

Bacalhaus do Atlântico, por exemplo, tem capacidade auditiva “média”, segundo os cientistas, enquanto o peixe dourado de água doce consegue ouvir frequências mais altas.

Assim, a distribuição dos peixes nos mares pode ser afetada, já que eles evitariam áreas com muitos ruídos. No caso da comunicação, sabe-se que 800 espécies de peixes de 109 famílias produzem sons, geralmente em frequências menores do que 500Hz.

Os peixes emitem sons quando estão brigando por território ou por comida, em cardumes ou quando são atacados por predadores. Até hoje, a maioria das pesquisas tinham sido focadas no impacto que o som poderia ter em mamíferos marinhos, tais como baleias e golfinhos.

Texto retirado do site TERRA.

Notícias, Zoologia

Fundação Zoo-Botânica de BH completa 19 anos!

A Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte (FZB-BH) completou 19 anos de existência dia 05/06, mesma data em que se comemorou o Dia Mundial do Meio Ambiente. Como parte das festividades, será entregue a Casa de Educação Ambiental, na Pampulha, totalmente reformada.

A casa foi equipada com um auditório para 70 pessoas, onde poderão ser realizadas exposições educativas, palestras e seminários. Além disso, o espaço abriga o centro de documentação, com vasto acervo de periódicos, fitas de vídeo e livros relacionados à fauna, flora e educação ambiental para pesquisas escolares.

A partir do dia 08/06, visitas orientadas poderão ser agendadas para grupos da terceira idade, escolares e portadores de necessidades especiais (deficientes visuais, físicos e mentais). De 8 a 13 de junho, os visitantes poderão apreciar exposições e participar de oficinas ecológicas.

Opções. A FZB-BH é um órgão da Prefeitura de Belo Horizonte e reúne o Jardim Zoológico, o Jardim Botânico e o parque ecológico da Pampulha. Segunda maior área verde pública da capital com 175 hectares, a Zoo-Botânica recebe anualmente mais de um milhão de visitantes.

No Jardim Zoológico, vivem cerca de 1.200 animais de mais de 240 espécies entre répteis, aves, anfíbios e mamíferos, representantes dos cinco continentes. Já no Jardim Botânico, mais de 3.500 espécies de plantas estão expostas nos sete jardins temáticos.

E o parque ecológico, inaugurado em 2004, tem área de 30 hectares, onde foram plantadas 3.000 mudas de árvores.

Acesso à web
Livre. Quem visitar o Aquário do Zoológico contará com um ponto de acesso livre à internet. A tecnologia ativada faz parte do projeto BH Digital, que prevê, até 2012, a instalação de 50 pontos na cidade.

Texto reformulado, retirado do jornal O TEMPO.

Biologia, Notícias, Solidariedade, Zoologia

O respeitável público não quer mais animais em circos!

Renata de Freitas Martins – renata@conjectura.com.br

INTRODUÇÃO

Atualmente estamos vivenciando um importantíssimo momento ético e legislativo em relação à presença de animais em espetáculos circenses.

Muitos os Estados e Municípios que atentaram para a questão, especialmente pelo crescente pleito da sociedade pelo fim da crueldade que a subsunção dos animais não-humanos aos animais humanos em circo significa. Atualmente são cinco os Estados que proíbem as apresentações, bem como mais de cinqüenta Municípios em todo o país.

Há ainda em tramitação projetos de leis em muitas cidades, alguns Estados, com destaque para a Bahia (PL 16.957/07, de autoria do deputado estadual Javier Alfaya) e também um de âmbito Federal, o PL 7291/06, tramitando atualmente na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.

A aprovação dos citados projetos de lei é de suma importância, conforme pode-se depreender dos argumentos que apresentaremos a seguir.

ORIGENS DA UTILIZAÇÃO DE ANIMAIS EM CIRCOS

Segundo Antônio Torres, em seu História do circo no Brasil (Funarte, 1998), é possível que a arte circense tenha suas raízes na Grécia antiga e no Egito. Os espetáculos desse período tinham a forma de procissões, cujo objetivo era celebrar a volta da guerra. Nesses cortejos, desfilavam homens fortes conduzindo os vencidos, trazidos como escravos, e animais exóticos, utilizados para demonstrar quão longe foram os generais vencedores.

Há, ainda, registros da presença da arte circense na China, onde a acrobacia era bastante popular, datados de mais de 4 mil anos. Relatos dão conta de que os chineses organizavam um festival anual desse tipo de apresentação. Dele teriam se originado os números da corda bamba e do equilíbrio sobre as mãos.

Espetáculos semelhantes ganharam força no Império Romano com a apresentação de habilidades incomuns em grandes anfiteatros, como o Circo Máximo de Roma e, mais tarde, o Coliseu, que comportava quase cem mil espectadores. Fazia parte da diversão, além da exibição de habilidades, a exposição do raro, do excêntrico, do inusitado – como animais exóticos, homens louros nórdicos, engolidores de fogo, gladiadores, entre outras atrações. No período de perseguição ao cristianismo, as arenas foram ocupadas por espetáculos de violência, como a sangrenta entrega de cristãos a felinos.

Com o passar do tempo, o impulso por divertir foi tomando novas formas e ocupando diferentes espaços. Durante séculos, artistas se exibiram em feiras populares, praças públicas e entradas de igrejas, com truques mágicos, malabarismo e outras habilidades julgadas incomuns.

O circo moderno, na forma como conhecemos hoje, com espetáculos pagos, picadeiro, cobertura de lona e cercado de arquibancadas, é invenção mais recente. Foi criado em 1770, por Philip Astley, suboficial inglês que comandava apresentações da cavalaria. Em seu circo, além das atrações com cavalos, Astley incluiu saltimbancos e palhaços. O enorme sucesso do espetáculo em Londres inspirou a criação de apresentações semelhante em toda a Europa e para além dos limites do Velho Mundo.

Nos Estados Unidos, primeiro país das Américas a receber essa atração, o circo consolidou sua característica itinerante, ao viajar por distintas cidades para fazer apresentações. Também nos Estado Unidos, o espetáculo consagrou a apresentação do que se consideravam excentricidades – mulheres barbadas, anões, gigantes, gêmeos siameses, pessoas muito velhas e deformações humanas e animais.

No Brasil, há registro da existência de pequenos espetáculos circenses a partir do final do século XVIII, provavelmente trazidos por ciganos expulsos da Europa. Em suas apresentações, esses artistas utilizavam doma de animais, números de ilusionismo e até teatro de bonecos. O circo moderno, no entanto, só chegou ao país no século XIX. Incentivadas pelos ciclos econômicos do café, da borracha e da cana-de-açúcar, grandes companhias européias vieram apresentar-se nas cidades brasileiras. Foram essas companhias que ajudaram a formar as primeiras famílias de circo, responsáveis pelo progresso da arte circense no Brasil.

O desenvolvimento do circo brasileiro não se deu em termos de espaços e equipamentos – concentrou-se no elemento humano, na sua destreza e habilidade. Foram mantidos números clássicos, como o do engolidor de fogo ou o da corda bamba, e criadas novas atrações adaptadas à cultura local. Os nossos palhaços, por exemplo, sempre falaram muito e usaram um tipo de humor mais malicioso, diferentemente do palhaço europeu, que era, por tradição, um mímico. Os números perigosos como o trapézio ou a doma de animais também ganharam mais espaço por de certa forma agradar muito aos brasileiros, à época desprovidos de informações sobre doma, manutenção dos animais nos circos e afins.

O circo que conhecemos é, portanto, fruto da evolução da arte circense. Esse espetáculo tradicional, familiar, composto de palhaços, trapezistas, mágicos e domadores, que povoou a infância de muitos e ocupa espaço na memória nacional, passa, no presente, por novas mudanças, seguindo o seu curso de evolução.

O surgimento dos grandes centros urbanos, o desenvolvimento tecnológico, o crescimento da economia da cultura, a concorrência de novas formas de entretenimento levaram os espetáculos circenses a se profissionalizar e a se concentrar na performance dos artistas.

Nesse novo cenário, o conhecimento circense não se transmite somente de pai para filho – exige preparo em escolas especializadas. Hoje são poucos os circos que continuam familiares.

Muitos donos de empreendimentos circenses que atuaram nos picadeiros preferem zelar para que seus filhos estudem e permaneçam no circo não como artistas, mas como administradores. A mudança nos valores e no perfil da nossa sociedade, cada vez mais urbana, tem criado uma demanda mais sofisticada e mais cosmopolita para a arte. Para adaptar-se aos novos tempos, os circos já vêm incorporando tentativas de desenvolver um diferente tipo de espetáculo que envolva novas linguagens além das atrações tradicionais.

O circo contemporâneo – ou novo circo, como alguns historiadores o chamam – apresenta um modelo que prospera atualmente, conhecido como circo do homem, por envolver somente a figura humana nas performances, excluindo a participação de animais. Seu formato, ainda em processo de desenvolvimento, representa uma tentativa de adaptar as artes circenses às exigências do mercado artístico contemporâneo, de fazê-lo acessível a todos os públicos, respeitando os valores sociais, sem deixar de cumprir os objetivos primordiais do circo: proporcionar alegria, ilusão e fantasia, em favor do entretenimento. Vários circos internacionais, como o Cirque du Soleil, do Canadá, e o Circo Oz , da Austrália, adotam essa nova abordagem artística, que não admite o uso de animais, cedendo espaço para as performances humanas. No Brasil, muitos circos orientam-se por essa concepção, como o Circo Popular do Brasil, a Intrépida Trupe, os Irmãos Brothers, o Circo Roda Brasil, o Teatro de Anônimos, entre tantos outros.

Esse novo modelo tem contribuído para a valorização do artista circense, criando um mercado promissor e altamente competitivo para esse profissional, com a remuneração associada à sua habilidade e ao grau de dificuldade da exibição.

MANUTENÇÃO E TREINAMENTOS DE ANIMAIS EM CIRCOS: GENERALIDADES

É sabido que os animais não humanos são dotados de sentimentos e instintos. Assim, como os animais ditos racionais, sentem dor, medo, angústia, stress, prazer, desprazer, tristeza, etc. São seres sencientes e que devem ter a mesma consideração à vida que qualquer outro ser vivo, pois estão todos em um mesmo patamar moral.

Nos circos, para que o animal se apresente manso e obediente, cada espécie é treinada de uma determinada forma a seguir explicitada:

ELEFANTES

“Como fazer para conseguir a atenção de um elefante de 5 toneladas. Surre-o. Eis como.” (Saul Kitchener – diretor do San Francisco Zoological Gardens)

  • Antes de chegarem no circo, passam por meses de tortura. São amarrados sentados, numa jaula onde não podem se mexer para que o peso comprima os órgãos internos e causem dor;
  • Levam surras diárias, ficam sobre seus próprios excrementos até que passem a obedecer;
  • Elefantes se comunicam, vivem em grupos com papéis sociais definidos, são extremamente inteligentes, ficam de luto por seus mortos e são capazes de reconhecer um familiar mesmo tendo sido separado dele quando filhote;
  • Sofrem de problemas nas patas por falta de exercícios, pois na natureza elefantes andam milhares de quilômetros todos os dias;
  • No circo os elefantes permanecem acorrentados o tempo inteiro. Mexer constantemente a cabeça é uma das características da neurose do cativeiro.

LEÕES, TIGRES E OUTRO FELINOS

  • De acordo com Henry Ringling North, em seu livro “The Circus Kings”, os grandes felinos são acorrentados a seus pedestais e as cordas são enroladas em suas gargantas para que tenham a sensação de estarem sendo sufocados;
  • São dominados pelo fogo e pelo chicote, golpeados com barras de ferro e queimados na testa pelo menos uma vez na vida para que não esqueçam da dor;
  • Muitos têm suas garras arrancadas e presas extraídas ou serradas;
  • Passam a maior parte de sua vida dentro de jaulas apertadas.

URSOS

  • Tem o nariz quebrado durante o treinamento;
  • Suas patas são queimadas para força-los a ficar sobre duas patas;
  • São obrigados a pisar em chapas de metal incandescente ao som de uma determinada música. No picadeiro, os ursos escutam a mesma música usada durante o “treinamento” e começam a se movimentar, dando a impressão de estarem dançando;
  • Muitos tem garras e presas arrancadas. Já foi constatado um urso com 1/3 de sua língua arrancada;
  • Alguns ursos se auto mutilam, batendo a cabeça nas grades e comendo suas próprias patas.

MACACOS

  • Apresentam o mesmo comportamento de crianças que sofrem abusos;
  • Até 98% do DNA dos chimpanzés é igual ao DNA humano;
  • Apanham para obedecer e obedecem apenas por medo;
  • Roer unhas e auto mutilação são comportamentos freqüentemente encontrados em macacos cativos;
  • Os dentes são retirados para que o animal possa ser fotografado junto às crianças.

CAVALOS

  • São açoitados e confinados sem direito a caminhadas;
  • Apanham para aprender;
  • Muitas vezes, por terem que fazer os números em pisos inadequados, especialmente escorregadios, acabam adquirindo lesões irreversíveis, com fortes dores.

TODOS OS ANIMAIS EM CIRCO

  • Estão sujeitos aos instrumentos dos clássicos “treinamentos”: choques elétricos, chicotadas, privação de água e comida;
  • Ficam confinados sem a mínima condição de higiene, sujeitos a diversas doenças;
  • O confinamento não lhes fornece o mínimo de condições de bem-estar, sendo, aliás, totalmente contrário à vida que teriam em seus habitats;
  • Não têm assistência veterinária adequada;
  • São obrigados a suportar mudanças climáticas bruscas e viajar milhares de quilômetros sem descanso.

Por estas razões é que diversas associações pelos direitos dos animais condenam e trabalham contra a presença de animais em circos, e esta atitude tem sido fomentada por grande parte do respeitável público circense, sendo que todos os fatos narrados podem ser comprovados por amplo material já produzido, especialmente no Brasil. Também incluiremos em tópico adiante alguns exemplos de acidentes já ocorridos, o que deixará ainda mais indubitável que lugar de animais não-humanos definitivamente não é em circos.

Com efeito, os animais obedecem não por índole, mas porque sentem dor, desespero, medo, raiva, aflição, insatisfação, incômodo, situações que, sem dúvidas são caracterizadas como crueldade e maus-tratos.

DOMESTICAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES?

Animais silvestres ou selvagens são aqueles naturais de determinado país ou região, que vivem junto à natureza e dos meios que este lhes faculta, pelo que independem do homem.

Pois bem. Com esta definição de animais silvestres fica latente que a domesticação destes é algo totalmente anti-natural, e, portanto, é considerada maus tratos, já que para que esta existe, haverá que se retirar o animal de seu habitat natural, alterando-lhe toda uma estrutura de vida e costumes, podendo inclusive levar-lhes à morte.

Aliás, não apenas a retirada do animal de seu habitat que lhe trará malefícios, mas também, e, principalmente, os hábitos que o ser humano irá imputar-lhe, para que viva com essa nova “sociedade”, portanto, mesmo que sejam originários da vida em cativeiro, as condições de vida que lhes são imputadas nada têm a ver com as necessidades que têm.

Em circos, normalmente os hábitos novos imputados aos animais são dos mais cruéis. Animais são forçados a realizar malabarismos e diversos outros números para entreter o público, porém, para que “aprendam” a fazer tudo que seus domadores desejam, sofrem demais.

Devemos finalmente ressaltar que, animais silvestres, apesar de em tese terem sido domesticados, podem revoltar-se, e então, ninguém será capaz de pará-los. Temos exemplos recentes de acontecimentos fatais por causa desta insistência de alguns circos em manterem animais em seus números, como a morte do garoto Juninho em Pernambuco, que fora puxado para dentro da jaula de leões famintos e lhes servindo de refeição, após três dias de total jejum.

Assim, é inquestionável que lugar de animal silvestre é na natureza, seu habitat natural, e que a diversão humana, sadia e inteligente, imprescinde do sofrimento de outrem, afinal de contas, artistas de circos sem animais são muito criativos, talentosos e capazes de entreter seu público. Nada como o bom e velho palhaço, os malabaristas, trapezistas e mágicos!

E OS ANIMAIS DOMÉSTICOS?

Também é comum encontrarmos animais domésticos, como cães, gatos e cavalos em apresentações de espetáculos públicos. Mas será que o simples fato de serem domésticos é permissivo para que seus tutores façam o que bem entenderem com eles?

Do mesmo modo que os animais silvestres nativos e exóticos, os domésticos indubitavelmente também possuem sua tutela legal e jurídica albergada por nossa legislação em vigor.

Ademais, de se ressaltar que animais domésticos são seres especialmente de companhia e não devem ser submetidos a longas jornadas de treinamento e trabalho, sendo obrigados a realizar atividades totalmente contrárias à sua natureza, bem como estando expostos a músicas em altos sons, gritaria e afins (lembrando-se que a audição dos animais é extremamente mais sensível e potente que a dos humanos. O cavalo, por exemplo, possui uma acuidade auricular quatro vezes melhor que a dos humanos).

De se ressaltar ainda que um animal só aprende determinado procedimento após repeti-lo incontáveis vezes, por reflexos condicionados, e, portanto, mesmo se tratando de um animal doméstico, não há nada natural em se forçar um cão a ficar constantemente apoiado apenas em duas patas ou então que um gato pule de uma altura de 20 metros ou ainda um cavalo dando pinotes em minúsculos palcos escorregadios, por exemplo.

Finalmente, não poderíamos deixar de citar os danos físicos que acometem os animais domésticos, que chegam até mesmo a pagar com suas próprias vidas para realizarem algum número forçado por seus “treinadores”, ou ainda pelas condições lastimáveis em que são mantidos, em espaços minúsculos e sem higiene, propensos a adquirirem inúmeras doenças e em notório estado de maus tratos.

ILEGALIDADE E INCONSTITUCIONALIDADE

Além de legislação específica já em vigor em determinados locais, conforme já citamos, devemos também atentar que nossa legislação ambiental alberga a tutela dos animais, inclusive todos aqueles utilizados em circos.

Constituição da República, no capítulo do Meio Ambiente, assim dispõe:

“Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1° – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

(…)

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

Importantíssimo ainda a tutela aos animais albergada pelo Decreto Federal 24.645/1934:

“Art. 1° – Todos os animais no país são tutelados do Estado.

Art. 2°, § 3°: Os animais serão assistidos em juízo pelos representantes do Ministério Público, seus substitutos legais e pelos membros das sociedades protetoras dos animais.

Citado decreto, inclusive, já proíbe a apresentação de animais em circos desde o ano de 1934, conforme podemos depreender de seu artigo 3º, que em rol exemplificativo traz situações quetipificam situações de maus tratos, e especialmente em seu inciso XXX, assim considera aexibição de animais em casas de espetáculos para a realização de acrobacias, ou seja, exatamente as atividades praticadas por circos.

Já a Lei de Crimes Ambientais (Lei federal n° 9.605/1998), finalmente, contempla o seguinte tipo:

“Art. 32 – Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.”

Assim, devemos ressaltar que a proteção de todos os animais está albergada em nossa legislação, sendo crime qualquer ato que prejudique o animal, seja ele um cão poodle, um cavalo ou animais exóticos utilizados em apresentações circenses (elefante, urso, camelo).

E não obstante a questão legal abordada, a preservação da VIDA, seja ela de qual forma for, há que prevalecer como objetivo primordial e essencial na consciência e ética humana e ambiental. O ser humano deve alcançar a tão necessária evolução e parar definitivamente com a arcaica e irracional exploração de animais, tornando-se finalmente um ser racional, condição da qual tanto se orgulha de ostentar.

DOS DISPOSITIVOS DO IBAMA A RESPEITO DE ANIMAIS EXÓTICOS EM CIRCOS

Mister também ressaltarmos que, mesmo que se considerasse a possibilidade de manutenção de animais em circos, os animais presentes atualmente em circos de modo algum poderiam estar atualmente sob a tutela dos circenses, tendo em vista que é notório a qualquer leigo a falta de condições adequadas para a dignidade destes animais.

Conforme portaria IBAMA n.º 108/94, que regulamenta a manutenção de algumas espécies de animais exóticos por pessoas físicas ou jurídicas, dentre elas, aqueles mais comuns mantidos por circos como o Ursus arctus (urso pardo), o Elephas maximus (elefante asiático), o Panthera leo (leão) e o Panthera tigris (tigre), algumas exigências devem ser atendidas. As principais são:

– assistência permanente de pelo menos um médico veterinário;

– que o animal seja sexado e marcado (leia-se microchipado);

– apresentação de relatório anual (atualmente também com relatórios resumidos trimestrais a serem apresentados via internet);

– proibição de visitação pública;

– recinto nos mínimos padrões exigidos:

Urso
Área – 100 m² / 600 m³ (se arbícola)

Abrigo – 15

Tanque – 15 m² / 2m profundidade

Área de Cambiamento – 10 m²

Piso – camada de terra 2,0 sem concreto.

Elefante (Proboscidae)
Área – 1000

Tanque – 100 m² / 3m profundidade

Área de Cambiamento – 2 x 50 m², altura mínima de 100 m

Piso – areia/terra, sem concreto

Especificidade: cambiamento em concreto. Portas de trilho reforçado.

Leão e Tigre
Área – 60  / 150 m³

Abrigoo – 15 m²

Área de Cambiamento – 3 x 6 m²

Piso – areia/terra, sem cimento

Tanque: 10 m² / 1,0 m profundidade.

Além das regras citadas, o transporte desses animais apenas poderá ser feito com a obtenção das respectivas guias de transporte (GTA), estando os animais com todas vacinações em dia, bem como com estado de saúde totalmente perfeito.

Importante também lembrar que é proibido no país a entrada de espécie exótica sem as devidas autorizações (artigo 31 da Lei de crimes ambientais), e, portanto, mesmo que filhotes tenham nascido no país, necessário comprovar-se a origem dos animais, bem como de todos seus ascedentes, pois a existência de ao menos um único animal que tenha entrado no país de forma ilegal, já enseja a ilegalidade de todos os seus descendentes.

Portanto, sem necessidade de conhecimento técnico algum, apenas pela simples observação, é notório que algumas das normas basilares para se tutelar os animais não são observadas minimamente pelo circo, especialmente no que se refere à questão de visitação pública e de padrões mínimos de recintos.

ALGUNS FATOS OCORRIDOS EM CIRCOS COM ANIMAIS NO BRASIL

São muitos os acidentes com animais em circos, prejudicando os próprios animais, bem como seus tratadores, outros componentes dos circos, o público e a população em geral. Para não nos tornarmos muito prolixos, selecionamos apenas alguns dos fatos para exposição a seguir, apenas a título de mera exemplificação prática:

– Bady Bassit/São José do Rio Preto/SP, abril de 2008: leão solto por circo causa pânico na região;

– Mata de São João/BA, dezembro de 2007: macaco arranca parte do dedo de uma menina de 3 anos. Animal fica em jaula improvisada em carrinho de supermercado;

– Cuiabá/MT, dezembro de 2007: leão pula muro e foge de circo;

– Vitória/ES, outubro de 2007: mulher tem braço amputado após mordida de leão de circo que tentou acariciar.

– Palhoça/SC, maio de 2006: elefante foge de circo;

– Itaboraí/RJ, fevereiro de 2006: leão é encontrado em jaula aberta escorada apenas com uma tábua em frigorífico abandonado;

– Uberaba/MG, dezembro de 2005: 5 leões são abandonados por circo m estrada;

– Ervália/MG, julho de 2005: macaca chimpanzé arranca dedo mínimo de criança de 12 anos que estava em circo que se apresentava na cidade;

– Campos do Jordão/SP, julho de 2005: dois tigres morrem no circo Stankowich. A priori afirmou-se que fora de frio, porém, após, em laudo feito por veterinário do circo, ficou constatada morte por vírus transmitido por gato doméstico, o que no sugere a ingestão de animais domésticos pelos animais do citado circo, já que representantes do circo tentaram descartar o cadáver de um dos animais, abrindo-lhe e queimando as vísceras, inclusive.

– Restinga Seca/RS, junho/2005: criança de oito anos sofreu ferimentos ao encostar em grade deleão, o qual acabou sendo executado com choque elétrico, por meio de aparelho para este fim portado por seu treinador;

– Lavras do Sul/RS, maio/2005: homem é atacado por um tigre de circo, tendo seu braço esquerdo amputado;

– São Paulo/SP, fevereiro de 2005: chimpanzé Dolores, após ter sido retirada do circo Di Napoli pelo IBAMA, estando depressiva e com bronquite crônica, finalmente é encaminhada para um santuário após decisão judicial;

– Antônio Carlos, Florianópolis/SC, julho de 2004: dois leões e dois tigres são apreendidos em um circo, após serem encontrados desnutridos e em jaulas soldadas;

– Curitiba/PR, junho de 2004: IBAMA precisa encontrar um novo lar para 2 leões que estavam com um particular e não têm mais condições de mantê-los. Animais nascidos em circo;

– Iguaraci/PE, abril de 2004: urso pardo Bruno, maltratado e desnutrido é simplesmente abandonado por circo no sertão do Pernambuco;

– Penha/SC, março de 2004: morre gato em conseqüência de queda na apresentação do número “pulo do gato” em circo em Santa Catarina;

– Aparecida de Goiânia/GO, dezembro de 2003: tigresa da espécie real de bengala ataca tratador, mordendo antebraço e bíceps do rapaz, o qual teve sérios ferimentos, tendo que ser submetido a cirurgia para tentar recuperar os movimentos;

– São Paulo/SP: Bambi, elefanta presente no circo Stankowich escapa para a Radial Leste em pleno horário de rush;

– Penha/SC, outubro de 2003: morre Madú, elefanta que viveu anos em um circo e passou o final de sua vida em um outro circo em Santa Catarina. No laudo atestava-se que a elefanta morreu com um raio na cabeça, apesar de ter vivido ao redor de uma cerca eletrificada e de diversas testemunhas terem presenciado sua cruel morte por eletrocussão;

– Sumaré/SP, janeiro de 2003: circo Stankowich abandona três leões no centro da cidade de Sumaré/SP, alegando não querê-los mais. Os animais foram encaminhados em estado lastimável de saúde para o Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos, sendo que um dos animais estava tão debilitado, que veio a óbito;

– Maracanaú/CE, dezembro de 2001: leoa morta a tiros depois de escapar em circo no Ceará;

– Curitiba/PR, agosto de 2001: trapezista do circo imperial do México teve que amputar braço após ter sido atacado por leoa;

– Atibaia/SP, abril de 2000: circo Bartholo abandona 3 leões 1 leoa em terreno baldio;

– Recife/PE, abril de 2000: leões matam garoto. Quatro leões famintos do circo Vostok puxam o garoto Juninho para dentro da jaula no intervalo da apresentação do espetáculo circense. Garoto tem uma morte trágica e cruel e os animais são todos mortos. Em exame necroscópico, há a constatação de que os animais não comiam há dias.

CONCLUSÕES

Os legisladores baianos, bem como os federais deverão atentar-se que o circo contemporâneo apresenta um modelo que prospera atualmente, conhecido como circo do homem, por envolver somente a figura humana nas performances, excluindo a participação de animais.

Além disso, a utilização de animais não humanos para tentativa de atraçãode um suposto público é uma ultrapassada e falidaestratégia de marketing, tendo em vista que o anseio da sociedade moderna há tempos vem evoluindo, de modo que não mais aceitam o tratamento de animais não-humanos como se meros objetos fossem, além de se ressaltar que já se trata de atividade ilegal e inconstitucional, conforme rol legislativo já citado e pela indubitável crueldade que tal ato significa.

Também não há que se falar em educação, arte e cultura na apresentação de animais em situações totalmente estranhas às suas naturezas, além de toda uma vida submetida às jaulas e à itinerância, sob todo tipo de intempérie climática. Educação, arte e cultura não são feitas e nunca o serão por meio da exploração de qualquer forma de vida que seja, pois caso contrário teríamos um enorme contra-senso. Qual seria a lição a se transmitir a uma criança ao fazê-la ver um elefante subindo em um banquinho? Ou um leão e um tigre pulando um arco de fogo? Ou ainda um urso dançando ou andando de bicicleta? Um gato pulando de uma altura de dez metros e se espatifando no chão? Não vejo outra a não ser a de que animais seriam seres inferiores e que o humano (“todo-poderoso”) pode dominá-lo e fazer o que quiser…

Assim, roga-se que legisladores tenham uma atuação ética e não antropocêntrica, coadunando-se com as tendências mundiais morais globais, e finalmente votando e aprovando o PL do Estado da Bahia 16.957/07 e o PL federal 7291/06, proibindo-se a apresentação e manutenção de quaisquer animais não-humanos nos circos e espetáculos assemelhados.

E que o respeitável público ostente mesmo esse título de respeitável e continue evoluindo em seus conceitos éticos, morais e legais, não aceitando a crueldade como cultura e arte.

Texto recebido por email da INFO SENTIENS.

Biologia, Notícias, Zoologia

Espécie de ave em Madagascar é declarada extinta.

O efeito combinado de espécies de peixes de outros locais e as redes de pesca feitas de náilon provocaram a extinção de uma ave aquática em Madagascar, anunciou hoje um grupo conservacionista.

O frágil animal, conhecido como alaotra grebe, foi declarado extinto 25 anos depois da última vez que foi avistado, segundo a BirdLife International. “Evidentemente, a suspeita de seu desaparecimento não é nova”, disse Martin Fowlie, porta-voz da BirdLife, que organiza a “lista vermelha” de espécies de aves em perigo.

Os cientistas resistiram a declarar sua extinção de imediato porque a ave vivia no extremo oriental do país, onde a observação é difícil. “Não queríamos declarar a extinção e que a ave surgisse dois anos depois”, explicou.

A BirdLife responsabilizou a introdução de um peixe no Lago Alaotra e o uso de redes de pesca de náilon, que asfixiam as aves, pela extinção da espécie.

Texto retirado do site IG.

Biologia, Curiosidades, Zoologia

Aves migratórias fazem voos de mais de 11 mil km sem parar.

Em 1976, o biólogo Robert Gill Jr. foi à costa sul do Alasca para pesquisar as aves se preparando para suas migrações de inverno. Uma espécie em particular, uma ave que vive no limo chamada fuselo, deixou-o intrigado. Essas aves eram muito gordas. “Elas pareciam bolinhas voadoras”, disse Gill.

Na época, os cientistas sabiam que os fuselos passavam o inverno em lugares como Nova Zelândia e Austrália. Para chegar lá, a maioria dos pesquisadores supôs que as aves realizavam uma série de voos pela Ásia, parando no caminho para descansar e comer. Afinal, elas eram aves terrestres, não aves marinhas que conseguem mergulhar para conseguir comida no oceano.

Mas Gill obervou que, no Alasca, os fuselos estavam se alimentando de mariscos e vermes como se pudessem comer por um grande período de tempo. “Eu fiquei imaginado por que aquelas aves estavam engordando aquele tanto”, disse o pesquisador.

Gill então ficou pensando na possibilidade de aqueles fuselos ficarem no ar por mais tempo do que os cientistas acreditavam. Seria difícil testar essa ideia, pois não seria possível acompanhar as aves em voo. Por 30 anos, ele tentou formar uma rede de ornitólogos (observadores de pássaros) que buscavam fuselos migratórios sobre o oceano Pacífico.

Finalmente, em 2006, a tecnologia permitiu que as ideias de Gill realmente fossem postas em prática. Ele e seus colegas conseguiram implantar transmissores via satélite nos fuselos e rastrear seus voos.

Os transmissores enviaram a localização das aves para o computador de Gill. Ele disse que, às vezes, ficava acordado até 2h para ver o sinal mais recente aparecer no programa Google Earth que rodava em paralelo no seu computador. Assim como ele suspeitava, os fuselos voaram sobre o oceano aberto rumo ao sul pelo Pacífico. Eles não pararam em ilhas no meio do caminho. Em vez disso, eles viajaram mais de 11 mil km em nove dias – o maior voo sem escalas já registrado. “Fiquei sem palavras”, disse Gill.

Desde então, cientistas vêm rastreando inúmeras aves migratórias. Os resultados estão começando a ser publicados agora. Esses dados deixam claro que os fuselos não estão sozinhos. Outras espécies de aves podem voar vários milhares de quilômetros sem escala em suas migrações. Os cientistas antecipam que, nos próximos anos, quando mais dados forem reunidos, mais aves se juntarão a esse grupo de elite.

“Acho que teremos um número imenso de exemplos”, disse Anders Hedenstrom, da Universidade Lund, na Suécia.

Enquanto cada vez mais aves se provam ultramaratonistas, os biólogos estão voltando sua atenção para a forma como elas administram feitos de resistência tão grandiosos. Considere, por exemplo, um dos maiores testes de resistência humana nos esportes, a Volta da França. Todos os dias, os ciclistas sobem e descem montanhas pedalando durante horas. Nesse processo, eles aumentam seu metabolismo em cerca de cinco vezes em relação ao momento em que estão descansando.

O fuselo, entretanto, eleva seu índice metabólico de 8 a dez vezes. E, em vez de encerrar cada dia com um grande jantar e uma boa noite de sono, as aves voam a noite toda, ficando com fome aos poucos enquanto viajam a 64 km por hora.

“Estou impressionado com o fato de que os fuselos podem voar assim”, disse Theunis Piersma, biólogo da Universidade de Groningen.

Traduzido por André Luiz Araújo


Dispositivos de monitoramento de localização evoluíram com o tempo

Nos anos 1960, zoólogos começaram a rastrear ursos e outros mamíferos com colares de rádio e depois passaram para os transmissores via satélite. Nessa época, os ornitólogos não tinham como monitorar as aves. O peso dos rastreadores impossibilitava seu uso em aves migratórias.

Na última década, porém, os transmissores diminuíram para um tamanho suportável pelas aves. No primeiro experimento de sucesso do biólogo Robert Gill, ele e alguns colegas implantaram um modelo de 28 g na cavidade abdominal de fuselos, que pesam cerca de 340 g e cujas asas têm envergadura de 76 cm. No próximo mês, Gill deve testar um transmissor de apenas 16 g. Apesar disso, a maioria das aves migratórias é tão pequena que mesmo um transmissor desse peso seria intolerável.

Felizmente, os pesquisadores conseguiram diminuir outro tipo de dispositivo de rastreamento. Conhecido como geolocalizador, ele pode ser tão leve quanto dois grãos de arroz, apenas 5 g.
Os geolocalizadores podem ficar pequenos assim porque eles não se comunicam com os satélites. Eles apenas registram a mudança nos níveis de luz. Se os cientistas conseguirem recapturar as aves com o dispositivo, eles podem recuperar os dados. Aí, eles usam programas de computador para avaliar o trajeto das aves baseando-se na elevação das aves e posição do Sol.

Texto retirado do jornal O TEMPO.